"Compreendendo a mente adolescente: um olhar psicopedagógico acerca das dificuldades no aprender "
Nadia Bossa
Um dos grandes desafios da prática psicopedagógica reside no trabalho com o adolescente. Não só pelas dificuldades na instauração do vínculo, como também devido a falta de instrumentos ou recursos materiais que despertem o interesse do jovem e sirvam de elo no momento inicial do atendimento psicopedagógico. Esse dado de realidade exige do profissional um bom conhecimento sobre a gênese, evolução e vicissitudes dos modos de funcionamento psíquico da mente adolescente, além de muita criatividade. Sem esses recursos é difícil garantir adesão terapêutica. Tradicionalmente a adolescência tem sido pensada como período de crise, momento da vida marcado por conflitos na relação com o outro, especialmente aqueles (outros) que não fazem parte da “ turma” . Seja com pais, professores, irmãos, ou até mesmo adolescentes com interesses diferentes, nenhuma relação é vivida harmoniosamente nesta etapa, exceto, aquelas onde o jovem se identifica com seus pares. Ainda que esse seja o aspecto que, em geral, caracteriza a adolescência, existe uma questão que pode fazer desta fase a mais importante da vida. Do ponto de vista da formação da mente, alguns estudiosos consideram o período que vai da puberdade ao início da vida adulta como a segunda chance. Para esses teóricos, os conflitos vividos no início da infância, mais especificamente, nas etapas pré-edípica e edípica, seriam revividos e reeditados na adolescência, possibilitando a elaboração desses conflitos e uma nova organização psíquica. O “ silêncio evolutivo ” da latência, que tem por objetivo conotar a ausência de progresso estrutural, bem como a “metabolização” pelo sujeito das pesadas aquisições operadas no decorrer das fases precedentes, seria rompido pelas tempestades afetivas da adolescência . Nesse período todas questões estruturais da primeira infância são recolocadas, em meio a um furacão pulsional e conflitual criando uma circunstância psíquica bastante favorável à intervensão psicopedagógica. A importância de se rever o valor do potencial estrutural da adolescência é inquestionável já que representa a oportunidade de evolução dos elementos operacionais e relacionais do ego, ou seja, perspectivas de um futuro mais saudável. A clínica psicopedagógica pode favorecer esse momento através da construção do conhecimento que dará sentido as experiências emocionais. Com isso quero dizer que o procedimento epistemológico do psicopedagogo deve considerar que no encontro com o adolescente irá encontrar o universo infantil, com suas dificuldades residuais e terá a tarefa de identificar as necessidades dessa criança/adolescente e, na linguagem do adolescente, suprir a criança. Do ponto de vista das dificuldades na aprendizagem, conhecer as vicissitudes desse momento da vida, permite uma melhor compreensão acerca da lógica do pensamento adolescente. Sem perder de vista a singularidade do sujeito, podemos estabelecer um paralelo entre angústias vividas pela criança ao longo das etapas do desenvolvimento afetivo propostas por Freud (anal e fálica) e os dramas vividos pelo jovem nas idades de 12 à 17 anos (aproximadamente). Admitir essa possibilidade teórica orienta o olhar psicopedagógico no sentido do diagnóstico e tratamento nas dificuldades de aprendizagem, uma vez que esclarece o contexto psíquico em que se dá a estruturação do pensamento, e consequentemente os entraves na aprendizagem escolar.
Fonte: ABPp